
A síndrome do intestino irritável (SII) é um distúrbio do sistema digestivo que afeta cerca de 1 em cada 10 pessoas no mundo todo. No Brasil, estima-se que 12% das pessoas sofram com o problema, que é mais frequente nas mulheres entre 30 e 50 anos. A condição é caracterizada por dor abdominal e alterações no funcionamento intestinal e tem impacto importante na qualidade de vida dos pacientes quando não é tratada. Veja a seguir quais são os sintomas mais comuns e como tratar o problema.
Síndrome do intestino irritável: o que é?
A síndrome do intestino irritável (SII) é um transtorno gastrointestinal crônico, de natureza mutifatorial, caracterizada por dor abdominal e alteração do hábito intestinal na ausência de uma causa orgânica identificável.
Essa condição leva a alterações nos movimentos realizados pelo intestino durante a digestão (o chamado peristaltismo intestinal), resultando em episódios de diarreia, constipação ou ambos alternadamente.
Embora a causa exata do problema não seja completamente compreendida, acredita-se que a SII seja causada por uma combinação de fatores como sensibilidade aumentada do intestino, alterações na microbiota intestinal, inflamação de baixo grau no corpo, dieta, fatores psicológicos (como estresse e ansiedade) e predisposição genética.
Sintomas da síndrome do intestino irritável
Os sintomas da SII variam de pessoa para pessoa, mas os mais comuns incluem:
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Dor ou desconforto abdominal recorrente;
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Distensão e inchaço abdominal;
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Excesso de gases;
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Episódios de diarreia, constipação ou alternância entre os dois;
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Sensação de evacuação incompleta;
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Presença de muco nas fezes.
Vale dizer que os sintomas podem ser agravados por fatores como estresse, consumo de alimentos gordurosos, cafeína, laticínios e adoçantes artificiais.
Quando procurar por um médico?
Dados da Organização Mundial da Gastroenterologia (WGO, em inglês) indicam que 90% das pessoas que sofrem com a SII não procuram ajuda médica e apelam para a automedicação -- ou simplesmente não fazem nada.
A conduta, no entanto, não é recomendada, já que o diagnóstico e tratamento precoces ajudam a melhorar a qualidade de vida e evitar complicações da doença.
Por isso, a recomendação é que, ao primeiro sinal de alteração no hábito intestinal – como episódios frequentes de diarreia ou constipação -- e, ainda, na presença de sintomas como perda de peso, dor abdominal intensa, presença de muco nas fezes e excesso de flatulência, o indivíduo procure a orientação de um gastroenterologista para avaliar a causa dessas queixas.
Exames utilizados no diagnóstico
O diagnóstico da SII é feito com base nos sintomas e no histórico clínico do paciente e devem considerar:
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Sintomas iniciaram há mais de 6 meses;
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Sintomas presentes nos últimos três meses, com frequência de pelo menos um dia por semana.
Para excluir outras patologias, alguns exames podem ser solicitados, tais como:
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Exames de sangue para avaliar deficiências nutricionais (como de ferro, que causa anemia) e infecções;
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Teste de intolerância à lactose e ao glúten;
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Teste de alergias alimentares (como proteína do leite e doença celíaca);
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Endoscopia digestiva alta;
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Colonoscopia para examinar o intestino grosso;
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Teste de fezes para verificar infecções ou presença de sangue oculto ou muco.
Esses exames servem tanto para dar mais pistas sobre o que pode estar causando o problema como para descartar outras doenças com sintomas semelhantes.
Formas de tratamento para a síndrome do intestino irritável
Por ser uma doença crônica, o tratamento tem como objetivo aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente. As opções incluem:
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Mudanças na alimentação: evitar alimentos que desencadeiam os sintomas, como alimentos ricos em gordura, cafeína, álcool, alimentos processados e alimentos que causam gases (como feijão, repolho e brócolis). Aumentar o consumo de fibras, frutas e vegetais também pode ser benéfico.
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Gerenciamento do estresse: praticar técnicas de relaxamento, meditação e fazer psicoterapia pode ajudar no manejo do estresse e da ansiedade, quadros que pioram os sintomas de SII.
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Exercício físico regular: a prática regular de atividades físicas pode ajudar a melhorar a função intestinal e reduzir o estresse.
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Medicamentos: em alguns casos, o médico pode prescrever medicamentos para aliviar os sintomas, como antiespasmódicos (para reduzir cólicas abdominais), antidiarreicos ou laxantes (para controlar diarreia ou constipação) e antidepressivos (em doses baixas, para ajudar a controlar a dor e outros sintomas).
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Probióticos: algumas evidências sugerem que o uso de probióticos, que são bactérias benéficas que vivem no intestino, pode ajudar a aliviar os sintomas da SII em alguns pacientes.
Alimentos indicados para quem tem síndrome do intestino irritável
Como falamos, a alimentação desempenha um papel central no tratamento e controle dos sintomas da SII. Nesse sentido, o consumo de alguns alimentos pode ser benéfico para quem convive com a condição:
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Alimentos ricos em fibras solúveis, como aveia, mamão, abacate, cenoura e batata doce, já que ajudam no bom funcionamento do intestino e ainda estimulam a proliferação das bactérias “do bem” na microbiota intestinal.
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Frutas e vegetais com baixo teor de FODMAPs (carboidratos fermentáveis), como banana, mirtilo, morango, pepino, abobrinha e espinafre. Os FODMAPs são mais difíceis de serem digeridos pelo intestino e podem causar ou aumentar o desconforto gástrico.
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Proteínas magras, como frango, peixe e tofu;
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Grãos integrais, como arroz integral e quinoa;
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Iogurte natural com probióticos (desde que o leite e derivados não cause desconforto gástrico no indivíduo).
Alimentos não indicados
Tão ou mais importante do que prestar atenção ao que vai no prato é o que deve ficar de fora dele. Isso porque alguns alimentos são comprovadamente ruins para quem convive com SII e podem agravar o quadro e aumentar o desconforto. A lista inclui:
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Alimentos ultraprocessados e ricos em conservantes e outros aditivos químicos;
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Bebidas com cafeína, que pode irritar o intestino;
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Refrigerantes e bebidas gaseificadas;
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Laticínios, especialmente para quem tem intolerância à lactose;
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Leguminosas como feijão, lentilha e grão-de-bico, bem como vegetais como o repolho, que têm uma maior tendência à formação de gases.
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Adoçantes artificiais, como sorbitol e aspartame.
Ainda neste quesito, recomenda-se que o paciente mantenha um diário alimentar para ajudar a identificar quais alimentos causam mais desconforto e, assim, evitá-los.
Autor: Dr. Décio Chinzon - Gastroenterologista